terça-feira, 14 de julho de 2009

JORNAL DE FATO ( MOSSORÓ )

Vítimas das enchentes viram estatística
JOTTA PAIVA De Alto do Rodrigues Alto do Rodrigues - O esquecimento é maior que a morte, porque termina o que a morte começou. A frase é do poeta e escritor pernambucano Valter da Rosa Borges, mas parece ter sido escrita para os potiguares vitimados, outra vez, pelas fortes chuvas dos invernos nordestinos. Três meses já se passaram desde o dia em que dezenas de famílias tiveram que deixar suas residências para não se afogarem nas águas junto com os poucos móveis e bens que possuíam. Três meses pode passar rápido, mas para quem ainda não pode voltar para suas casas ou não tem mais para onde ir, parece uma eternidade; um pesadelo sem fim. O ginásio de esportes do município de Alto do Rodrigues é um dos quatro abrigos improvisados pela prefeitura para abrigar 45 famílias que ainda esperam pela ajuda pública para recomeçar suas vidas. Os recursos começam a aparecer e o governo municipal já anuncia R$ 5 milhões em investimento. Trata-se de uma ação administrativa de respaldo, que garante construir casas, estradas e pavimentação. Os recursos são do Ministério da Integração Nacional, distribuídos pelo Governo do Estado para os municípios atingidos esse ano pelas chuvas. A notícia alivia os corações dos afetados, mas não garante que seus problemas serão resolvidos em curto ou longo prazo. Essas mesmas famílias viveram o mesmo drama no ano passado e até hoje não receberam o que foi prometido; tiveram de voltar para as mesmas casas e reviver o trauma das águas inundando as casas, obstruindo estradas e afogando plantações. Dona Ágda Maria é uma sobrevivente desse dilema. No ginásio de esportes do Alto do Rodrigues, divide o barraco improvisado, feito com tapumes e lençóis, com sua filha, genro e netos. As duas famílias somam dez pessoas, entre elas um bebê de menos de um ano. Eles se viram como podem para ter o mínimo de privacidade, pelo menos na hora de trocar de roupa. Os banheiros são responsáveis pelas principais reclamações, fator que dificulta a convivência com as outras 15 famílias arranchadas no local. "Se não construírem minha casa eu não terei para onde ir", disse a dona-de-casa que teve sua casa de taipa, no sítio Canto do Roçado, derrubada pela força dos rios que cortam o Vale. Maria do Rosário morava no bairro São Francisco, próximo do Centro e também não tem mais casa. Ela e cinco pessoas dividem um espaço de pouco mais de dez metros quadrados. Rosário, Agda, Graciele, Ana Maria e Maria Deusa são apenas algumas das personagens de uma história que se repete e nunca tem um final feliz, pelo menos não para aqueles que enfrentam esse sofrimento. Homens e mulheres que veem sua dignidade descendo pelo ralo e dependem da caridade alheia e da boa vontade do Estado para sobreviver um dia após o outro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Confira postagens antigas.