Por irmão Flávio
Não tenho problema com a idade e assumo que estou mais para o fim dos 40 que para o início dos cinqüenta. Apesar de ser considerado quase um meia-idade, tenho uma cabeça tão fresca, tão antenada com a modernidade que nem tenho sentido o tal do tempo passar.
Claro que meu comportamento mudou. Radicalmente diria. Não freqüento mais festas noturnas, parei de beber, fumar, usar algumas drogas lícitas e ilícitas e de querer mudar o mundo com palavrões, armas ou até utilizando técnicas ultrapassadas de autoflagelação em suicídios lentos, graduais e seguros, que boa parte da juventude continua utilizando, através do uso constante de substâncias e de alimentos que aceleram o desencarne.
A mudança me tirou deste caminho negativo e hoje sou saudável, cheio de vida e apaixonado por tudo que existe de belo no planeta. Convivo atualmente com jovens que buscam uma melhoria pessoal, com outros imbuídos de valores humanos e engajados em fraternidade, participantes de organizações voltadas para a promoção humana em vários aspectos, além de alguns que cantam mantras, oram, rezam e acreditam que através de alguma tradição espiritual podem atingir estágios mais elevados de existência.
Esse povo do bem tem me dado muitas alegrias e, com ele, sigo uma vida feliz e acreditando que se fosse maioria, o planeta estaria caminhando para uma mudança.
Ledo engano, ao menos no momento atual. Os jovens que acredito estarem no caminho certo, são minorias absolutas. Os encontros que participamos são sempre com dezenas e às vezes até com unidades. As campanhas para a inscrição de voluntários para ações humanitárias atingem poucas almas. Contamos nos dedos os jovens que se posicionam de maneira menos egoísta.
Por estar sempre com estes jovens, estava sem noção do outro lado, mas, por causa de um trabalho que estou desenvolvendo como escritor, passei a conviver com a juventude que eu não acompanhava fazia tempo.
Tenho ido para alguns shows e presenciado de perto o comportamento de grupos de jovens e, o pensamento que tenho é extremamente preocupante.
Os jovens estão mergulhados no mais impróprio comportamento, utilizando de maneira pesada e constante álcool, maconha, comprimidos diversos, cocaína e se comunicando com palavrões, agressividades gratuitas e, sempre prontos, para um barraco e uma grande confusão, sem separar mais homens e mulheres disto que relato.
Estando no meio deles não ouço e nem presencio praticamente nenhuma conversa produtiva, nada em prol de um planeta melhor, tudo, absolutamente tudo gira em torno de suas próprias necessidades, ingressos para shows, viagens para eventos fora da cidade, roupas, adereços e zero de preocupação com os irmãos necessitados ou algo próximo disso.
Dentro de um carro tive a infelicidade de ouvir da boca de uma jovem os palavrões e as imoralidades mais absurdas que uma pessoa pode proferir, gratuitamente, para risadagem geral, numa cena para eles hilária e, para mim tétrica, numa demonstração cabal da mais pura e genuína deteriorização da moral e dos bons costumes e, saiba que não sou careta e nem metido a moralista.
Como disse já freqüentei shows, bebi, fumei cigarro e maconha, mas nunca utilizei estados alterados por estas substâncias para sair por ai dizendo palavrões, putarias ou tendo comportamento agressivo.
Minha geração utilizava essas coisas para curtir os shows de maneira sadia, conversávamos sobre as letras, gostávamos da paz e torcíamos pelo fim das guerras, pela vitória dos democratas nos EUA, pelo retorno da democracia no Brasil, fazíamos parte do Comitê de Anistia e Direitos Humanos e os que brigavam eram condenados por todos os demais, pois não sentíamos prazer em brigar e nem em dormir na delegacia.
Ouvindo os jovens nestes momentos que passo com eles, percebo que não usam camisinha, não dão a mínima para os valores humanos, não fica um sóbrio para dirigir enquanto os demais bebem, não tem interesse em escrever corretamente e, lamentavelmente só pensam neles.
Os shows que freqüentam só contam a partir de dez mil pessoas. Menos foi fraco. A continuar assim, não sei como será o futuro.
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