i
Porque orar pelos mortos?
Ao chegar ao dia de finados, quero partilhar com vocês algumas reflexões bíblico-teológicas sobre este tema. A fé que nos anima, faz dar sentido a tudo o que fazemos, desde um abraço, até o perdão por uma ofensa grave. Tudo na vida de quem crê tem um sentido sobrenatural, que vai além de uma visão puramente humana. Diante do enigma da morte, por maior que seja a capacidade humana, nunca chegará a entender porque Deus escolheu este caminho. O livro dos Salmos nos garante que não fomos feitos para a corrupção. “Disso se alegra meu coração, exulta a minha alma; também meu corpo repousa seguro, pois não vais abandonar minha vida no sepulcro, nem vais deixar que teu santo experimente a corrupção. O caminho da vida me indicarás, alegria plena à tua direita, para sempre”(Salmo 16,6-11). Para quem vive somente para este mundo, não pode ver sentido na morte e nem mesmo encontrar razão para rezar por aqueles que amamos na terra e que continuamos amando sempre.
Paulo apóstolo, escrevendo aos Coríntios afirma: “O mesmo se dá com a
ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo ressuscita
incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória;
semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico,
ressuscita corpo espiritual”(1Cor 15,41-42). As Escrituras também
atestam que é uma obra de misericórdia sepultar os mortos,(cf.Tb
1,15-20). “Puseram-se em oração, suplicando que o pecado cometido fosse
totalmente cancelado. Fizeram uma coleta individual, reuniram duas mil
moedas de prata e mandaram a Jerusalém, a fim de que fosse oferecido um
sacrifício pelos pecados. Se não tivesse esperança na ressurreição dos
que tinham morrido na batalha, seria coisa inútil rezar pelos mortos.
Mas considerando que existe uma bela recompensa guardada para aqueles
que são fiéis até a morte, então esse é um pensamento santo e piedoso.
Por isso, mandou oferecer um sacrifício pelos pecados dos que tinham
morrido, para que fossem libertados do pecado.(II Mac 12, 42-45).
Acreditamos que Jesus ressuscitado, nosso Senhor, é fonte de
esperança para todos os que depositam nele a sua fé: Ele nos faz
participantes da sua Vida. A tal ponto que, no fim da nossa vida, não é o
nada o que nos espera, mas a vida eterna na plenitude de Deus; Ele nos
“chamou das trevas para a sua luz maravilhosa”(1Pd 2,9). A razão de orar
pelos que já partiram e por aqueles que ainda ficaram só tem sentido se
crermos na ressurreição, como disse o Mestre Jesus: “Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”
(Jo11,25). O apóstolo das nações entendeu profundamente esse mistério
que chega afirmar aos Romanos: “Se o espírito daquele que ressuscitou
Cristo dentre os mortos habita em vós, Aquele que ressuscitou Cristo
dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais, pelo seu
Espírito que habita em vós”(Rm, 8,11).
Jesus nos previne de um fato que é determinante para alcançar a
glória e a recompensa eterna. “Não fiqueis admirados com isso, pois vem a
hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão sua voz, e sairão.
Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; e aqueles que
praticaram o mal, para a condenação”(Jo 5,28,29). Portanto somos
corresponsáveis para alcançar a recompensa, seja aqui na terra nos
ajudando a corresponder ao amor de Deus, como depois da separação, vale
recordar, vale lembrar, vale orar pois “para Deus tudo é possível”.
Orar é amar e para quem ama não existe separação de tempo e nem de
espaço. O céu começa aqui.
Dom Anuar Battisti
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Confira postagens antigas.