segunda-feira, 4 de julho de 2011

Prejuízos de R$ 120 mi em três anos



Nos últimos três anos, a carcinicultora Tácia Liane Veiga contabilizou prejuízo de R$ 2 milhões em seus viveiros de camarão. De 2008 pra cá, quando a região sofreu com as piores enchentes da década, ela vem tendo as piores perdas financeiras desde que iniciou a atividade. No primeiro, os danos causados pelo inverno chegaram de R$ 1,2 milhão. No ano passado, passou dos R$ 600 mil, e, só neste ano, são mais de R$ 300 mil pelo ralo.
Tácia é apenas uma das 500 pessoas que produzem camarão no Rio Grande do Norte que contabilizam prejuízos. A estimativa da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) é que o acumulado de perdas supera os R$ 120 milhões.
Segundo o vice-presidente da ABCC, Enox Maia, a bacia hidrográfica dos rios Mossoró e Açu concentra mais de 3 mil hectares de fazendas de criação de camarão. "Essas fazendas tiveram uma produção média de 500 toneladas de camarão perdida por mês, o que daria mais de 15 mil toneladas em três anos. Isso a 8 reais o quilo, chegaríamos a mais de R$ 120 milhões em prejuízos", enfatiza.
Com isso, o Estado que, antes da crise chegou a comercializar, só para exportação, mais de R$ 100 milhões, hoje produz pouco mais de 30 mil toneladas, equivalente a pouco mais de R$ 24 milhões em negócios.
No entanto, o problema vai além dos desastres ambientais. O mau comportamento do mercado foi responsável pela crise da produção de camarão potiguar que já foi o maior produtor do crustáceo do Brasil. O dólar se desvalorizou quase 50%, enquanto os custos de produção subiram quase 90%.
Sem ter para onde exportar, a saída foi investir no mercado interno que tem crescido, mas, segundo a ABCC ainda é muito tímido. "O consumo per capto do brasileiro é de 500g por pessoa/ano, enquanto a média mundial é 3kg", reclama Enox. Para ele, a solução é fazer um trabalho no interior que ainda não tem a cultura de comer camarão.
Isso também poderia possibilitar a expansão da produção da cultura em outras áreas do interior. "Dos três mil hectares em atividade no Estado, dois mil são em águas continentais, ou seja, em água de rio e poço. Nós temos potencial para duplicar esse território gerando duas vezes mais emprego do que hoje", enfatiza Enox.
Além de gerar 25 mil emprego diretos, 80% dos produtores potiguares são micro e pequenos, o que garante uma maior distribuição de renda. Esses números incomodam Enox que espera mais atenção dos governos. "A produção de camarão no interior depende de muita coisa, como a qualidade da água que precisa ser mais salinizada, mesmo assim é possível o investimento", completa.
Potiporã ainda não se recuperou de prejuízos
Desde 2008 que a Potiporã, maior produtora de camarão do Rio Grande do Norte, ameaça deixar o Estado. Violentada pelos desastres naturais, a empresa perdeu grande parte dos seus mil hectares de produção. Só no beneficiamento, fechado desde então, tinham 800 mulheres trabalhando em três turnos. A gigante do setor reduziu sua produção em mais de 60%, fechou a indústria e demitiu aproximadamente 3.500 pessoas depois das enchentes de 2008 e 2009.
De acordo com a ABCC, a Potiporã produzia e comercializava cerca de 600 toneladas do crustáceo a cada mês. "Uma empresa que teve devastada toda a sua área durante os invernos, tem dificuldade de se recuperar porque, mesmo sem produção, precisa continuar pagando os impostos e encargos", disse Enox Maia.
Hoje, com apenas 450 trabalhadores, a Potiporã tenta se reerguer, mas a empresária Tácia Liane teme que com a repetição do problema das cheias neste ano, a empresa desista de reabrir o beneficiamento, previsto para setembro. Isso porque quando o inverno fica acima da média, como no último triênio, o rio Açu invade as fazendas destruindo os viveiros.
Na foz, a força da água destrói os barramentos que seguram a água do mar na foz, aumentando a salinização da água e colocando em risco toda a produção.
13 empresas prejudicadas em Pendências
A destruição dos barramentos do rio Açu, no município de Pendências, está colocando em risco a estabilidade de 11 empresas de carcinicultura e duas salinas. A força das águas durante o inverno deste ano destruiu a Gamboa de Jonas e as barragens provisórios do Rio dos Cavalos, Porto de Carão e a ponte de Pendência.
De acordo com Tácia Liane Veiga, a situação se arrasta há pelo menos 70 dias e de umas semanas para cá, a água das estações de bombeamento do município e da Alcanorte, que abastece Guamaré e Macau, começou a apresentar alterações. "O nível de sal é de 7ppm (parte por milhão), ou seja, para cada litro de água potável, 7% são de água salgada", disse.
Em suas contas, o problema prejudica 60 mil pessoas nos três municípios, além da população de Carnaubais, Alto do Rodrigues e Afonso Bezerra, que utilizam mananciais para pesca que também está sendo atingido pelas marés altas do mar da costa norte.
O Idema não está mais permitindo a construção dos barramentos provisórios. Para resolver o problema é preciso construir barragens permanentes, mas isso custa R$ 5,5 milhões e a Prefeitura alega não ter esse dinheiro.
Na última semana o Idema, por meio de nota, informou que os barramentos no rio Piranhas/Açu, no município de Pendências, só podem ser licenciados após autorização da Agência Nacional de Águas (ANA), uma vez que o rio é federal.
Segundo o Instituto, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) está solicitando à ANA, delegação de competência para que a obra seja licenciada. Se o IDEMA conceder licença sem a autorização federal pode responder na esfera judicial por descumprir a legislação, podendo a licença ser cassada.
Fonte: Jornal de Fato

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